segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Náufragio






















Envolvida nas brumas da noite,
Faço do sonho meu almirante
E parto em busca
de um continente perdido...

Um dia,
quem sabe,
talvez eu me deixe naufragar no teu mar...

Ou no teu olhar?

Pássaro vermelho















Um pássaro vermelho caíu do espaço aberto da minha imaginação.

Voou, rasando as nuvens,
semeando no céu uma seara de fogo.

Ah, pássaro vermelho
leva-me contigo!

Leva-me, que eu quero ver nascer a eternidade...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Erotica












Língua.
Descendo.
Mãos.
Percorrendo.
Lábios.
Mordendo.
E o vulcão explodia….
Borboletas.
Voando.
Depois?
Recomeçando…
Ai queria…

Fechar-te a boca














Hei-de fechar-te a boca com um beijo.
Calar-te com o silêncio das línguas que vagueiam
Na indecência da tesão.
Não mais palavras
Senão gemidos.
E o espanto dos amantes.
Despir-te-ei, corpo e alma
Com a minha boca e
Desvendarei todos os teus segredos.
Hei-de invadir-te com o meu silêncio
E deixar apenas que nos incendeies.
Não mais espaço entre nós
Senão o fogo dos que se procuram.
Deixar-te-ei livres os olhos
Para que me procures na tua senda,
E exausto do pó dos caminhos
Possas sempre regressar
E descansar em mim.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Desvario


















Gosto quando os teus olhos vêm em voo picado sobre os meus,
Desafiando a gravidade, a moral, e todas as regras que os homens,
e Deus,
Impuseram a si mesmos.
Gosto da tua boca invasora
Que chega de mansinho, como uma pomba e
Me devora viva, qual abutre em festim solitário.
Gosto do desvario do teu corpo,
ensandecido e incendiário,
bailando sobre o meu.
Gosto quando me abres o seio e
vens saciar-te no meu coração.
Gosto dos teus gestos puros de vampiro,
Que me acendem o sangue e a paixão.
Gosto das tuas mãos rasgando a minha pele
Como a quilha dum barco que sulca o rio,
E do uivo das tuas entranhas no êxtase do cio.

Incompleto













Quem te mandou cruzar o meu caminho,
Oh maltrapilho de fogo?
Que anjo ou demónio te segredou o meu nome
para me procurares onde a vida me escondeu?
Que feiticeira te encantou para que me embruxasses?
Quem te mandou fazer do meu coração um cavalo de batalha,
e espalhar borboletas debaixo da minha pele?
Paladino de mãos peregrinas,
em nome de que deus é que ousaste despertar-me?

Nem todos os que vagueiam























Nem todos os que vagueiam estão perdidos.
Há no vaguear uma esperança ténue
De se encontrar algo,
Mesmo quando nada se procura
E nada se espera.

Nem todos os que vagueiam estão perdidos.
Por vaguear não quer dizer que se não saiba o caminho,
Mas vagueando,
Pode encontrar-se um caminho alternativo,
Um trilho melhor que nos ofereça,
Talvez não o piso mais fácil,
Mas uma paisagem mais bela.

Por isso,
Não nos indiquem o caminho,
Que não andamos perdidos.
Vagueamos.
Não procuramos nada.
Ninguém.
Não fugimos também.
E no entanto,
Sabemos bem o valor dum abraço,
Duma mão amiga que nos ajuda a subir,
Ou nos ampara na descida,
Do companheiro que caminha ao nosso lado.

Nem todos os que vagueiam estão perdidos.
Querem, talvez, apenas ver a vida do lado de fora do rebanho,
Longe da multidão.
Andar devagar
E de olhos bem abertos,
Para que nada escape ao coração.

Haveremos de chegar.




NOTA AO POEMA: O título provém duma frase citada por J.R. TOLKIEN no Senhor dos Anéis: "Not all those who wonder are lost". É igualmente uma citação bíblica. As semelhanças com o meu poema param aqui. Este é um dos meus poemas mais lidos e mais copiados. Isso mesmo: copiados. Agradeço pois que o não façam, remetendo-vos para a mensagem no topo direito do meu blog sobre direitos autorais. obviamente, o alerta serve para todas as minhas palavras aqui publicadas.

Eu não morri

"Do not stand at my grave and weep.
I am not there. I do not sleep.

.../..."
autor anonimo














Eu não morri.
Transformei-me em vento, para te segredar ao ouvido palavras de amor.

Eu não morri.
Sou a gota de chuva que desliza pelo teu corpo.
Sou a onda do mar que te salga a pele.

Eu não morri.
Não me chores!
Não me procures na terra.
Sou eu o luar que brilha nos teus olhos e na tua escuridão.
Sou a feiticeira que vem pela noite colher os teus segredos.
Não me leves flores, que eu não morri.
Eu não estou lá.
Eu sou a relva onde o teu corpo se deita, as flores que te perfumam.
Não pises na minha campa, não te sentes a recordar-me.
Vê-me em cada um dos que por ti passam, mesmo o mais pobre dos vagabundos,
porque agora é com eles que eu ando.

Eu não morri!
Soltei amarras e fiz-me à vida.

Quero






















Não quero saber quem foste, nem o que fizeste na vida. Não quero o teu passado. Quero saber quem és agora. Quero o teu presente.

Tudo o que quero é saber se arriscas seguir o que te manda o coração, mesmo que os outros se riam de ti, mesmo que isso te possa parecer tolo e todos te apontem o dedo. Quero saber o que te manterá de pé, quando o teu mundo ruir.

Quero saber se és capaz de enfrentar o fogo e atravessar a chama comigo. Quero saber se és capaz de caminhar sobre gelo fino para perseguir um sonho. Aas tuas mãos podem vir vazias, mas o coração deve vir a transbordar. Quero-te assim mesmo, com medo, imperfeito e inseguro, mas quero que venhas para mim inteiro.

Se tens alguma coisa para te perdoar, perdoa-te. Se tens alguma coisa para arrumar na vida, arruma-a. Se tens que aceitar a dor da perda ou do desamor, aceita-a e segue o teu caminho. Mas não tragas contigo o passado, porque ele já não existe. E não me peças o futuro, porque esse ainda não chegou. Tenho para ti o presente, porque é aqui que eu estou. Agora.

Almas antigas
















Quero o teu primeiro olhar!
As almas antigas reconhecem-se ao primeiro olhar.
Quero lá saber se é karma ou o destino, ou Deus ou o diabo!
Ouve o meu canto de feiticeira.
Tira os olhos do chão.
Deixa-me olhar-te a alma.
O maior desejo da alma humana é outra alma humana,
porque como alguém mais sábio já disse:
nós nascemos anjos duma só asa.
Preciso do teu abraço para voar.

Caminhante














Entre dois sonhos caminho.
Desfeitos ambos.
Por isso, é minha a estrada do meio.
A lado nenhum me leva.

Justo aonde os sonhos me levaram.

Para Hahehuia e Kharmakhiel
















Às vezes não vivo.
Tenho uma vida intermitente...
Ou hesitante, sei lá.
Porque não sabe se há-de ser,
ou não se sabe ser.
Às vezes não vivo. Deixo-me estar.
Porque não me importo com o que sou
ou com o que não sou.

Hei-de chegar? "Vou andando",
como dizem os outros uns aos outros, por aí.
Seguindo o mesmo caminho que eles seguem
sabendo que leva a lado nenhum.

Às vezes não vivo.
Estou na vida como um vaso derrubado
por criança traquinas,
à espera que venham varrer os cacos.
Estou na vida como uma nuvem de verão
que não tem outra missão senão estar ali,
queda,
impedindo o azul,
ou quem sabe,
talvez rimando com ele.
E se chover? Pois que chova,
que também é missão da nuvem.
Assim, a nuvem cumpre-se,
e a mim cumpre-me ficar a ver porque eu não posso chover.

Então, deixo-me estar.
Aqui ou ali, tanto faz.
Quero lá saber!
Estou na vida assim,
sem estar,
p'ra que me hei-de inquietar?
Estou bem assim, não estou?
E porque é que não hei-de estar?

Enquanto os outros vão, eu fico.
Fico sem me importar.
Porque é que hei-de ir atrás deles,
se voltam com as mãos tão vazias quanto eu fiquei?
Então, deixo-me estar.
Virá o dia? Virá ou não.
Talvez...
Virá ele, eu cá estou.
Estarei ou não, sabe-se lá.

(Se não estiver aqui, estarei noutro lugar,..)