quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A luz do meu dia


emphaticperspectives


Deixa-me ver o dia
com os teus olhos,
beber na fonte da tua boca,
colher do teu corpo
a líbido silenciosa.
Deixa-me as tuas mãos
fortes e sábias
e o silêncio rude
dos teus passos.
Deixa-me a tua
sombra esquiva
e a embriaguez soberba
com que bebes o mundo.
Deixa-me ver com
teus olhos,
para perceber
se já anoiteceu
ou se foste tu quem
roubou a luz do meu dia.

Catedrais


Reims


São teus olhos catedrais
onde me converti.

Teu coração o mosteiro
onde me recolhi.

O poema que entra pelos olhos do amado


negativodigital


Deixa que as minhas palavras te firam os olhos
como a claridade dum punhal de luz,
que o meu poema te espante e que
toda eu possa entrar em ti
e morrer devagarinho
no teu coração.

De mim nada



eptafios


De mim
nada tens
que saber
senão quem sou.
Que te interessa
perceber
para onde vou,
se tu és,
joio daninho
preso no chão.

O meu caminho é solidão.

Seguir-me
não podes.
Perdeste o alento
de saber caminhar.
Tenho por
companhias
a nudez do luar,
o assombro do vento
e as mãos vazias.

A vida numa parede


Spiderpic


Escorrem lembranças na parede da minha sala,
onde luzem as fotos dos já-idos.
A luz dos seus olhos pereceu
mas a alma lhes ficou naqueles retratos,
para iluminar as noites perenes de saudade.
E há entre eles uma moldura vazia
que me há-de acolher quando me for
e a alma se me tornar noutro luzeiro
na parede duma outra sala.

Reencontro


renyds.blogspot


Arde um incenso de bom augúrio na minha porta de entrada.
No ar, o perfume do murmúrio das fadas,
um luzeiro de estrelas guarda o caminho,
de urze e rosmaninho cobri a tua estrada.
A mim me vesti de branco linho e de espera,
e espero com a alma alvoroçada
por ventos de Primavera.
Vem, que é já noite na vida,
E de noite há espantos e medos,
há olhos que fadam os caminheiros,
E os invisíveis dedos da negridão
catam segredos do coração.
Para ti guardei o mágico ritual
da sagração dos amantes,
o reencontro final de almas gémeas errantes.
Cingir-te-ei num estreito e longo abraço.
O corpo te untarei de óleos perfumados
para mitigar-te o cansaço
de séculos e séculos passados.
Para beber, um cálice de sidra quente com canela,
e os olhos perdidos nos olhos à luz duma vela,
duma só vela.
Calarei os gritos de predadores nocturnos,
ecos soturnos da escuridão,
Por ti, mandarei calar o próprio mundo,
comunhão de carne e espírito em silêncio profundo.
Com mãos frescas na tua fronte cansada,
velarei por ti até vir a madrugada,
para que se te cerrem os olhos em serenidade.
Vem, que é hora de despirmos a saudade,
e à luz desta vela,
e só desta vela,
incendiarmos a nossa eternidade.