segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Ninfa e Fauno
fauno sem luz nem cor,
desenho abraços na noite
e escrevo rostos nas estrelas.
Quando a tua sombra curvada
da espuma do cansaço se assomar,
acenderei a Lua para que me vejas.
Aqui estarei para me salvares,
por entre a noite, a madrugada e beijos de luar,
fingindo humanidade no tempo da eternidade,
ninfa escondida na eternidade do tempo.
Foto: Pan e Selene de Danae
Contigo
Seguirei contigo de pés descalços na areia,
vestidos de maresia e ondas bravas.
O vento há-de levar as tuas palavras escuras de noite
para longe, mais longe que o voo das gaivotas que nos cercam.
Irei contigo onde os teus passos nos levarem,
virás comigo na rota dum crepúsculo
onde sol e lua finalmente se beijam.
E das nossas almas amarrotadas como lençóis usados pelo amor
há-de brotar um novo alvorecer de líquidas estrelas.
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Pastoral
Nasci com ervas daninhas no sangue.
Sigo rasteira no entardecer dos bosques
Em esteira de pinhas secas e cheiros bravios.
O vento traz rumores das vinhas,
E o canto violeta dos pássaros embriagados de uvas e amoras
Soa para lá do riso da sábia ponte.
Pairam no ar finas memórias de sol
Em bocejos de águas.
No silêncio das romãzeiras fecho os olhos e sonho,
Rubros sonhos de então.
No monte o velho moinho continua a caminhada.
Há-de chegar, jura ele, rangendo as suas dores.
Um dia, há-de chegar!
Não sei para onde ele vai, mas acompanho-o.
Lá longe, os pássaros saciados adormecem
Com o meu sonho debaixo das asas.
Foto: Old Mill, Marshall County
Inevitável amor inverno
Inerte a manhã.
Silenciosos os pássaros
Enredados num vento envelhecido.
Cansada a chuva fria
Moendo as dolorosas pedras
Dos trilhos esquecidos.
Perdida eu
Na conjugação do verbo que
Cessou de existir
No tempo inevitável e sem sentido
Duma manhã inerte.
No perpétuo inverno oculto
Num poema de amor.
Inevitável e inerte.
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Talvez...
Se vieres,
possa eu estar.
Se ficares,
Queira eu permanecer.
Se me contares as estrelas,
quem sabe, eu calarei os ventos
e abrigarei tempestades no seio
para que nada te perturbe a palavra.
Se sorrires,
que eu não me perca
na densa névoa dessa tristeza.
E se me estenderes a mão,
eu esperarei que tragas a alma com ela.
E mesmo que chegues e nada tragas contigo,
porque nada tens em ti,
talvez então eu acredite
que finalmente chegaste a casa.
Diz-me de ti em ruínas
Diz-me com a tua voz de vento escuro o que alojas no coração?
Diz-me com palavras de lua morta que nome tatuaste na memória,
que canção ecoa no teu mar coalhado, quem te embala os sonhos
na perversidade estéril da solidão que inventaste?
Diz-me se a tua felicidade tem nome de naufrágio
ou é apenas uma sílaba vazia, desenhada na ponta dos teus pés
que nunca cessam de procurar em estradas de giestas e ruínas.
Diz-me se o que te move é a fome de vida ou o fastio da morte,
no silêncio dos teus dias vãos.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Loba
Vasta a noite.
Negro o silêncio.
O uivo rubro
ecoa nas pedras
e acende a Lua,
branca de espanto.
Aqui me dispo de quem sou,
ou pretendi algum dia vir ser,
solto palavras ao vento
como os mais finos cabelos,
sacudo a areia do tempo,
a poeira dos caminhos trilhados
mas nem por isso amados.
Visto a noite.
Abraço o silêncio
e solto o uivo branco
que ecoa em mim.
Rubra de espanto.
sigo a minha Lua negra.
Cansaço
Vai e dorme.
Repousa lá longe onde o horizonte é teu
e o canto da musa distante te encanta o coração.
Vai e dorme.
Repousa a cabeça cansada nas ondas dum
ebúrneo e ideal ventre desconhecido.
E quando acordares com os sonhos saciados,
talvez já não hajam desertos em teu redor,
nem o silêncio estéril dos leitos secos dos rios.
Talvez só a saudade permaneça.
foto de Jan Saudek, The Lovers
Adeus
As palavras sangraram.
Caíram no solo árido da mentiraarrastando-se sem rumo certo.
Sinto em mim a poesia do adeus
no dia mais que deserto.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Conversa com um amante sobre o amor possível
Não espero fogo de artifício ou que explodam estrelas por aí,
Tu não vês deuses na terra nem trazes vulcões no coração ou lava no sangue,
(metáforas de poetas, sabes?)
Eu não vou mudar de cor, tu não vais mudar de pele,
Eu não sou tu, tu não és eu, equações nulas.
Seremos talvez números primos, díades de resto zero, quase indivisíveis.
Tu existes para que eu exista. Eu sou para que tu sejas.
E as coisas que nos separam (ui, tantas!) não nos afastam,
Nem delas nos afastamos.
Almas gémeas? Metades?
Não sei, nem digo.
Almas seremos sempre. Mas por inteiro.
E ainda assim imperfeitas e incompletas.
Não pertencemos. Somos.
E um dia, sem aviso prévio, um de nós vai deixar de ser
Quando a vida se lembrar de usar a foice.
Eu não sou tua, tu não és meu,
Pelo menos no sentido lato do verbo pertencer.
Sim, eu sei, os corações são como os poetas,
Gostam de morrer de amor (nem que seja em sentido figurado)
Gostam de pertencer um ao outro.
Pronto, ok. Troquemos de coração.
Agora és tu o poeta e eu a leiga,
Mas gosto de te ler por dentro, de te virar do avesso em provocação.
Agora és tu quem dialoga baixinho com os teus anjos desasados
E eu espeto o dedo no olho de Deus para que me veja,
Ou chuto o rabo do diabo, ora porque não?
Agora és tu o vaidoso que se mira no espelho
E eu finjo que troço, mas aprecio,
Não o ver-te no espelho, mas saber-te por dentro.
E é disso que sorrio à socapa. Do quanto eu te sei!
“Porque não te olho no espelho para que me vejas,
Mas para te ver.”
Agora tu és o veneno e eu o antídoto.
Eu sou o 12º signo da ternura e sensibilidade e
Tu és o escorpião secreto e mal-amado.
(oh meu bem amado!)
Nós somos o encontro que tinha de acontecer.
A colisão. Sem fusão ou anulamentos.
Átomos dançando, olhos nos olhos, em órbita dum mesmo núcleo.
Elementos díspares duma qualquer reação química
Que nos mantém íntegros, mas coesos.
Amanhã, voltaremos a trocar de coração,
Porque os poetas em nós assim exigem.
Não esperamos amores shakespearianos
Nem operas trágicas de Verdi.
Só o amor possível.
Só este amor que temos.
Só este amor.
Divagação sobre Everton Behenck e o seu amor possível
Foto de Jenny Boylan:signs of love
terça-feira, 18 de junho de 2013
Sou como a Lua
Sou como a Lua,
Minguo e cresço,
Às vezes, desapareço
E outras vezes sou tua.
Sou como a Lua,
Banhada nua
No amante mar.
Sou como a Lua,
Cuja alma mingua
Se não te encontrar.
Sou como a Lua,
Branca lembrança
Sozinha no espaço.
Sou como a Lua,
Cheia de esperança
Dum teu abraço.
Sou como a Lua,
Minguo e cresço,
Às vezes, desapareço
Mas sempre sou tua.
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Antes abismo, agora presença e sempre eternidade
Foi quando olhei para trás
E os meus olhos fitaram o abismo
E tu me deste a mão,
Que percebi que a ia guardar
No bolso da alma para sempre,
O que não é muito tempo
Quando o amor chega e
Exige eternidade.
Agora sei que mesmo quando não estás aqui,
Aqui estás ao meu lado,
Aqui está a tua mão que me guia
Na subida e na descida
E me esmaga os dedos
Como se carne e ossos se fundissem num só.
Não me espanta a queda.
Caio nos teus braços,
Na força muda que me enlaça
E suspende o medo,
E estica o fio do horizonte para nós dois,
Lá onde o amor amanhece e se eterniza.
terça-feira, 11 de junho de 2013
terça-feira, 4 de junho de 2013
Quatro Estações
Fosses tu árvore,
Eu seria Outono
Para te desnudar com um sopro,
Te banhar na seda da chuva
E depois rodopiar á tua volta
Sussurrando sei lá que disparates de amantes.
Fosses tu terra,
Eu seria Inverno,
Para te abraçar húmida e fogosa
Com a fúria de todos os rios
E depois, mansamente,
Me espraiar e repousar em ti.
Fosses tu semente,
Eu seria Primavera,
Para te ver despontar em flor,
Crescer no suspiro de pássaros apaixonados
E depois beijar-te, como quem chora,
No orvalho da manhã.
Fosses tu Lua,
Eu seria Verão,
Para te fazer gemer de luz
No cio do estio de Agosto,
E depois finalmente adormecer em ti, como quem morre,
Velada pelo branco puro do linho do teu amor.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Maresia
Cuido que este cheiro de maresia
É somente um suspiro de sereia
Feito duma promessa de beijos ausentes.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Lilith II
Eu não sou Eva,
Cordeiro de Adão,
Segunda escolha do Deus
Para a solidão do Homem.
Eu não sou Eva,
Espelho dum Homem,
Imagem duma costela.
Eu não sou osso dum osso
Nem carne duma carne,
Bode expiatório da serpente
Exorcizada do Deus
Cujo nome guardo no coração.
Eu escolho o caminho,
Penso por mim,
Blasfemo e oro
Com o mesmo fervor
Com que Deus e o Homem me puniram
Por ousar ser mulher e ser eu.
Eu dito as minhas regras
Não conheço rendição,
Trago a lua nas veias
E vomito a sua luz.
Eu sou Lilith,
Anjo ou demónio,
Tu me dirás,
Quando beberes a minha escuridão
E dançares no meu limbo.
Trago veneno nos lábios, não submissão.
Não preciso de asas para ir mais além,
Não sigo atras de ti,
Não estou debaixo de ti,
Não sou parte de ti.
Eu sou Lilith,
Barro do teu barro,
Lama da lama de Deus
Que te criou.
Ao teu lado,
Como igual.
Igual!
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Lilith
Filha da Lua
Porque cantas com luto nas palavras,
E escondes de mim as asas de escuridão?
Deixa-me esconder na tua canção,
Por entre estrelas mortas
E sois adormecidos.
Filha da Lua
E de deuses esquecidos,
Sigo a tua voz de vento
E vou mais além.
No som pungente
Do teu lamento
Abraço esse requiem
E canto também.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Consolatrix Aflictorum
E bruxa me chamam porque não temo as trevas,
Mas sigo na luz do meu fogo interior,
No canto luminoso que ecoa nas sombras.
Segue-me,
Se a tanto te impele o atrevimento e o desejo.
Mas vem de pés e coração descalços
Para que a tua voz se oiça na noite
E o casulo mortal se rasgue para o voo.
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