sexta-feira, 26 de julho de 2013

Conversa com um amante sobre o amor possível






















Não espero fogo de artifício ou que explodam estrelas por aí,
Tu não vês deuses na terra nem trazes vulcões no coração ou lava no sangue,
(metáforas de poetas, sabes?)
Eu não vou mudar de cor, tu não vais mudar de pele,
Eu não sou tu, tu não és eu, equações nulas.
Seremos talvez números primos, díades de resto zero, quase indivisíveis.
Tu existes para que eu exista. Eu sou para que tu sejas.
E as coisas que nos separam (ui, tantas!) não nos afastam,
Nem delas nos afastamos.
Almas gémeas? Metades?
Não sei, nem digo.
Almas seremos sempre. Mas por inteiro.
E ainda assim imperfeitas e incompletas.
Não pertencemos. Somos.
E um dia, sem aviso prévio, um de nós vai deixar de ser
Quando a vida se lembrar de usar a foice.
Eu não sou tua, tu não és meu,
Pelo menos no sentido lato do verbo pertencer.
Sim, eu sei, os corações são como os poetas,
Gostam de morrer de amor (nem que seja em sentido figurado)
Gostam de pertencer um ao outro.
Pronto, ok. Troquemos de coração.
Agora és tu o poeta e eu a leiga,
Mas gosto de te ler por dentro, de te virar do avesso em provocação.
Agora és tu quem dialoga baixinho com os teus anjos desasados
E eu espeto o dedo no olho de Deus para que me veja,
Ou chuto o rabo do diabo, ora porque não?
Agora és tu o vaidoso que se mira no espelho
E eu finjo que troço, mas aprecio,
Não o ver-te no espelho, mas saber-te por dentro.
E é disso que sorrio à socapa. Do quanto eu te sei!
“Porque não te olho no espelho para que me vejas,
Mas para te ver.”
Agora tu és o veneno e eu o antídoto.
Eu sou o 12º signo da ternura e sensibilidade e
Tu és o escorpião secreto e mal-amado.
(oh meu bem amado!)
Nós somos o encontro que tinha de acontecer.
A colisão. Sem fusão ou anulamentos.
Átomos dançando, olhos nos olhos, em órbita dum mesmo núcleo.
Elementos díspares duma qualquer reação química
Que nos mantém íntegros, mas coesos.
Amanhã, voltaremos a trocar de coração,
Porque os poetas em nós assim exigem.
Não esperamos amores shakespearianos
Nem operas trágicas de Verdi.
Só o amor possível.
Só este amor que temos.
Só este amor.



Divagação sobre Everton Behenck e o seu amor possível
Foto de Jenny Boylan:signs of love

2 comentários:

Fênix 27(Célia Maria) disse...

Olá!
Simplesmente fantástico.
Just love amour, aimez vous toujours!
Dispensa comentários,grata por visitar o meu cantinho e por segui-lo também.Aqui já estou a te seguir.
Fica na paz.

Anónimo disse...

Rica poesia.

Começo a pensar que portugal não morreu.