A boneca de trapos ama as mãos que a manipulam.
Mesmo quando lhe arrancam o coração de algodão
e lhe revolvem as entranhas de farrapos,
mantém o sorriso rasgado,
desenhado a tinta tosca num rosto de serapilheira.
A boneca de trapos não tem mais ninguém para amar
senão quem a faz sofrer.
E quando as mãos cruéis
a lançam em fúria na fogueira,
aquele sorriso é o último a arder.
No voo esparso das cinzas que se erguem do lar,
cumpre assim o seu último ritual.
Levada pelo vento das sílfides
para arrebanhar nuvens e céu,
a boneca de trapos é imortal.