domingo, 7 de novembro de 2010

Ad Hominem















Não me interessa o rosto do homem.

Não lhe inventei o rosto.
Inventei-lhe o olhar, o sorriso, o beijo.
Inventei o Homem
Inventei o Ser,
A força, a ousadia, a coragem o desejo e a
Rebeldia de viver.

Não me interessa a cor dos olhos que inventei.
Não lhes inventei a cor.
Inventei-lhes a expressão no olhar
(E essa eu sei de cor!).
Inventei-lhes a paixão, o fogo, o calor,
A força que os incendeia e me abrasa,
a chama que me inflama.

Não me interessa o desenho da boca.
Não lhe inventei o desenho.
Inventei-lhe o sabor dos lábios.
A doçura, o riso aberto em cascata,
Puro, límpido e transparente,
O sorriso de quem sabe mas não precisa dizer.
O beijo que desejo,
Que ouso querer e me atormenta,
As palavras que imagino.

Não me interessa a forma das mãos.
Não lhes inventei a forma.
Inventei-lhes a ternura dos dedos peregrinos,
A musicalidade, a harmonia,
A suavidade para percorrerem
O teclado ansioso do meu corpo
E nele comporem a nossa maior sinfonia.

Não me interessa a largura do peito.
Não lhe inventei a largura.
Inventei-lhe o aconchego,
O espaço para repousar a cabeça
A força e a ternura do abraço,
E a estranha sensação
De sentir no meu o seu coração.

Não me interessa o corpo.
Não o inventei.
Inventei-lhe a alma,
Rebelde e insubmissa.
Inventei.lhe o estigma,
O carisma de quem sabe
E procura o que quer.
E a força de ser, essa não a imagino.
Sei!

Porque foi o Homem que eu inventei.

Tudo isso eu pude inventar.
Mas apenas como um hábil escultor
Que inventa a sua obra prima.
Como artista, não passou duma escultura,
Como obra, não passou dum sonho.
Porque não pude inventar-lhe a vida.

A vida é obra dos deuses.
E esses continuam sádicos...

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