terça-feira, 30 de novembro de 2010

Colisão

















Em spin,
Como partículas electrónicas de carga contrária
Que se atraem
E um sobre o outro
vão fechando o cerco.
Inexorável,
Inevitável colisão.
Há milénios o Grande Físico abriu a mão e
Nos lançou no Universo quântico.
E o Mago escreveu no Livro das Sombras,
Arúspices leram nas entranhas e calaram,
Sacrilégio!, gritaram Vestais,
Em silêncio, o Áugure sorriu.
As leis que regem o Mundo não se podem ignorar!
Tu és o meu iman,
Meu destino,
No mesmo campo magnético vibramos.
A mão do Criador selou a profecia:
Eu em ti e tu em mim.
Em rota fatal de colisão.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Nuvem














Sou nuvem insegura
que procura refúgio
no brilho das estrelas.

Porém, na intangibilidade dos sóis longínquos
refugio-me no brilho do teu olhar.

Geometria de nós
















Como duas linhas paralelas que juntas percorrem o mesmo eterno espaço.

Lado a lado, companheiras, partilhando sentido e direcção.


                                                                  Sem nunca se tocarem.
                                                                
                                                                  Até ao infinito.

Espera














Esperarei por ti
até que o infinito se consuma
e o Universo repouse,
reduzido ao seu último átomo,
na Mão trémula do Velho Criador.

Esperarei por ti até à morte de todos os deuses.

Quem sabe,
esperarei ainda depois...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Por onde os ventos uivam (Requiem por um sonho)




 

"E se a luz que há em ti for trevas,
Que grandes trevas serão."

Tenho um buraco no peito.
Por onde os ventos uivam e os sonhos se esvaem.
Porque me roubaste um pedaço de coração e me deixaste assim
muda e queda,
frágil, à mercê dos ventos dos mundo?
Tenho um buraco no peito que a tua ausência rasgou.
Porque te empenhas em guardar a sombra lá onde a escuridão te escondeu?
E enquanto os dias não chegam e a sombra é dona e senhora de ti,
solta esse pedaço de mim que guardaste nas tuas mãos.
O vento há-de trazê-lo de volta.
Em cinzas.
Do que entre nós se finou.
Do que entre nós nunca começou.

domingo, 7 de novembro de 2010

Guardarei

Guardarei os teus olhos de breu
Na escuridão da minha noite.

Escreverei os teus segredos na areia
Para que os leve o vento,
Ou os esconda o mar.
E na Lua breve
Amanhecerei o teu silêncio.

Ah, tu não sabes, mas eu sei,
Que o teu nome é feito da
Poeira das estrelas,
E que na tua voz,
Ressoam todos os cânticos dos
Velhos Marinheiros que o mar tragou.

Não tenho nada para te dar
Senão a nudez das minhas mão vazias
Para prencherem as tuas.
Não me tragas nada
Senao a tua asa
Para juntar à minha.

Escuta!
Já cantam as bruxas no
Sabat da madrugada e
As sereias embalam os
Amantes nos seus cabelos de prata.

Voamos?

Os deuses são sádicos
















Fecha os olhos.

Não os abras.

Ah, se os deuses soubessem a cor dos teus olhos
arrancar-tos-iam para fabricar as estrelas.

Ad Hominem















Não me interessa o rosto do homem.

Não lhe inventei o rosto.
Inventei-lhe o olhar, o sorriso, o beijo.
Inventei o Homem
Inventei o Ser,
A força, a ousadia, a coragem o desejo e a
Rebeldia de viver.

Não me interessa a cor dos olhos que inventei.
Não lhes inventei a cor.
Inventei-lhes a expressão no olhar
(E essa eu sei de cor!).
Inventei-lhes a paixão, o fogo, o calor,
A força que os incendeia e me abrasa,
a chama que me inflama.

Não me interessa o desenho da boca.
Não lhe inventei o desenho.
Inventei-lhe o sabor dos lábios.
A doçura, o riso aberto em cascata,
Puro, límpido e transparente,
O sorriso de quem sabe mas não precisa dizer.
O beijo que desejo,
Que ouso querer e me atormenta,
As palavras que imagino.

Não me interessa a forma das mãos.
Não lhes inventei a forma.
Inventei-lhes a ternura dos dedos peregrinos,
A musicalidade, a harmonia,
A suavidade para percorrerem
O teclado ansioso do meu corpo
E nele comporem a nossa maior sinfonia.

Não me interessa a largura do peito.
Não lhe inventei a largura.
Inventei-lhe o aconchego,
O espaço para repousar a cabeça
A força e a ternura do abraço,
E a estranha sensação
De sentir no meu o seu coração.

Não me interessa o corpo.
Não o inventei.
Inventei-lhe a alma,
Rebelde e insubmissa.
Inventei.lhe o estigma,
O carisma de quem sabe
E procura o que quer.
E a força de ser, essa não a imagino.
Sei!

Porque foi o Homem que eu inventei.

Tudo isso eu pude inventar.
Mas apenas como um hábil escultor
Que inventa a sua obra prima.
Como artista, não passou duma escultura,
Como obra, não passou dum sonho.
Porque não pude inventar-lhe a vida.

A vida é obra dos deuses.
E esses continuam sádicos...