Quem me dera de novo
Aquele campo de urze e rosmaninho
Onde fui pastora e vagabunda,
Onde o meu pai dizia
Que havia mais verde nas pessoas.
E havia!
Quem me dera de novo
Encher os pulmões com os montes
E entre fontes e rebanhos
Enterrar os pés no húmus frio e fértil,
Manchar de amoras o meu vestido branco
E toldar o juízo com medronhos.
Quem me dera de novo
Banhar-me nua e inteira
Debaixo de inesperadas cascatas
Que saltavam penhascos delirantes
E vinham cantando,
Frescas e límpidas,
Pelas pedras abaixo.
Recantos que só as ninfas guardavam,
Onde o meu pai dizia,
Que à noite, nas fragas,
A água roubava os raios do luar,
Para brilhar no dia em filigrana de prata.
E brilhava!
Guardo nos olhos o verde e a prata
Que a saudade de meu pai teceu.
Era saudade!
Quem me dera de novo
Nos dias sombrios de tempestade
Em que a eternidade cabia inteira
No rugir do céu,
E havia promessas de vida
No cheiro da terra molhada.
Quem me dera de novo
O tempo em que a voz de meu pai se ouvia
E dizia coisas que nunca esqueci.
Nunca esqueci!
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