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Arde um incenso de bom augúrio na minha porta de entrada.
No ar, o perfume do murmúrio das fadas,
um luzeiro de estrelas guarda o caminho,
de urze e rosmaninho cobri a tua estrada.
A mim me vesti de branco linho e de espera,
e espero com a alma alvoroçada
por ventos de Primavera.
Vem, que é já noite na vida,
E de noite há espantos e medos,
há olhos que fadam os caminheiros,
E os invisíveis dedos da negridão
catam segredos do coração.
Para ti guardei o mágico ritual
da sagração dos amantes,
o reencontro final de almas gémeas errantes.
Cingir-te-ei num estreito e longo abraço.
O corpo te untarei de óleos perfumados
para mitigar-te o cansaço
de séculos e séculos passados.
Para beber, um cálice de sidra quente com canela,
e os olhos perdidos nos olhos à luz duma vela,
duma só vela.
Calarei os gritos de predadores nocturnos,
ecos soturnos da escuridão,
Por ti, mandarei calar o próprio mundo,
comunhão de carne e espírito em silêncio profundo.
Com mãos frescas na tua fronte cansada,
velarei por ti até vir a madrugada,
para que se te cerrem os olhos em serenidade.
Vem, que é hora de despirmos a saudade,
e à luz desta vela,
e só desta vela,
incendiarmos a nossa eternidade.