quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Se o amanhã começar sem mim
Se o amanhã começar sem mim
Tenha eu a sorte de ter uma lápide
na terra onde adormecer.
E duas datas, apenas.
Apenas duas.
Não quero lá poesias,
Nem choros em prosa,
Saudades eternas deste e daquele.
(A saudade não é eterna,
Dura o tempo do bater dum coração.)
Só quero duas datas.
Não preciso de mais.
O que interessa é somente o que fiz entre elas.
Como usei o tempo que o Universo
(Ou Deus, sei lá!) me emprestaram.
O que interessa é o que imprimi nos corações que toquei,
a pegada que deixei na vida de outro alguém.
Por isso,
Duas datas.
Nada mais.
Solidão
Garrote que aperta o coração.
Terra infértil que o olhar alheio salgou.
Nada.
Com nada em volta.
Espectro vivo,
Testemunha da solidão dos outros.
Porque não são menos sós
Os olhos que me salgaram.
Apenas a ilusão os sustém.
Olhos vazios,
Alma errante.
E todas as mãos continuam vazias.
Infinitesimais
Vivemos num bater de coração.
Morremos num olhar.
Dois segundos apenas.
Uma vida.
E entre um e outro segundo
O Universo continua a expandir-se.
Que seres infinitesimais que somos!
Poeira cósmica e nada mais.
Basta apenas um olhar.
E o coração deixa de bater.
Mas o Universo continuará a expandir-se.
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