No
velho monte onde o vento
Compõe
melodias nos fios do teu cabelo,
Como
finas cordas dum violoncelo.
Deixa-me
envelhecer contigo
Onde
o futuro são os teus dedos nodosos
Enlaçados
nos meus, como no escuro da terra
Se
agarram as raízes deste velho carvalho que nos dá abrigo.
Sentados
no alpendre, vou ler-te os meus poemas.
Ri-te
comigo dos meus versos coxos
E
das rimas desajeitadas,
Das
palavras que não sei dizer
Mas
que me enchem os olhos e só tu sabes ler.
Que
o nosso desejo enrubesça
Como
aquelas laranjas penduradas no crepúsculo
E
cresça com o incendiar súbito do pomar ao sol nascer.
Deixa-me
envelhecer contigo,
Troça
das rugas que tento esconder
E
que te encantam em segredo.
Canta
comigo uma qualquer ária
Ao
som sincopado e cúmplice das cigarras
Escondidas
no arvoredo.
Deixa-me
adormecer no teu peito
E
sonhar na eternidade,
Enquanto
o tempo entretece os nossos dias
Em
perene serenidade.
E
quando partires, numa qualquer alvorada de chuva,
Leva-me
contigo, toma a minha mão,
Porque
eu sou parte tua,
Tua
víscera ou teu sangue, eterna namorada,
Ou
quem sabe, metade do teu coração.