quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Lua Azul (I)



Lua,
Minha feiticeira nua,
Quem te mandou azular?
Embriagaste-te de céu,
Ou bebeste a cor do mar?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Saudade



Quem me dera de novo
Aquele campo de urze e rosmaninho
Onde fui pastora e vagabunda,
Onde o meu pai dizia
Que havia mais verde nas pessoas.
E havia!

Quem me dera de novo
Encher os pulmões com os montes
E entre fontes e rebanhos
Enterrar os pés no húmus frio e fértil,
Manchar de amoras o meu vestido branco
E toldar o juízo com medronhos.

Quem me dera de novo
Banhar-me nua e inteira
Debaixo de inesperadas cascatas
Que saltavam penhascos delirantes
E vinham cantando,
Frescas e límpidas,
Pelas pedras abaixo.
Recantos que só as ninfas guardavam,
Onde o meu pai dizia,
Que à noite, nas fragas,
A água roubava os raios do luar,
Para brilhar no dia em filigrana de prata.
E brilhava!

Guardo nos olhos o verde e a prata
Que a saudade de meu pai teceu.
Era saudade!
Quem me dera de novo
Nos dias sombrios de tempestade
Em que a eternidade cabia inteira
No rugir do céu,
E havia promessas de vida
No cheiro da terra molhada.

Quem me dera de novo
O tempo em que a voz de meu pai se ouvia
E dizia coisas que nunca esqueci.
Nunca esqueci!